
A gralha acordou. As pancadas repetidas pareciam repercutir em seu coração. Num momento de desespero partiu em vôo vertical subindo para além das nuvens, para longe achar-se dos gemidos sofredores do seu pinheiro amigo. Lá nas alturas, escutou uma voz cheia de ternura:
— Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias.
A gralha subiu ainda mais e a mesma voz doce fez-se ouvir:
— Volte avezinha bondosa, vai novamente para os pinheirais. De hoje em diante, Eu a vestirei de azul, da cor deste céu e, ao voltar ao Paraná, você vai ser Minha ajudante, vai plantar os pinheirais. O pinheiro é o símbolo da fraternidade. Ao comer o pinhão, tira-lhe primeiramente a cabeça, para depois, a bicadas, abrir-lhe a casca. Nunca esqueça de antes de terminar o seu repasto, enterrar alguns pinhões com a ponta para cima, já sem cabeça, para que a podridão não destrua o novo pinheiro que dali nascerá.
E os pinheiros vão nascendo. "Do pinheiro nasce a pinha, da pinha nasce o pinhão..."
Pinhão que alegra as nossa festas, onde o regozijo barulhento é como um bando de gralhas azuis matracando nos galhos altaneiros dos pinheirais do Paraná. Seus galhos são braços abertos, repetindo Meu convite eterno: "Vinde a mim todos..."
A gralha por uns instantes atingiu as alturas. E que surpresa! Onde seus olhos conseguiram ver o seu próprio corpo, observou que estava todo azul. Somente ao redor da cabeça, onde não enxergava, continuou preto. Sim preto, porque ela é um corvídeo.
Ao ver a beleza de suas penas da cor do céu, voltou célere para os pinheirais.
Tão alegre ficou que seu canto passou a ser um verdadeiro alarido que mais se parece com vozes de crianças brincando.
A gralha azul voltou. Alegre e feliz iniciou seu trabalho de ajudante Celeste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário