Tristão, em seus delírios febris, não sabia o que estava se passando; sentia-se balançar suavemente, parecia que estava flutuando. Era o balanço semelhante ao do mar. Estaria ele no mar? A dor do ferimento parecia cortar-lhe fundo na alma.
Um alívio abençoado sobreveio-lhe à fronte, ao sentir o frescor de um pano úmido para abaixar-lhe a febre. Com dificuldade conseguira abrir os olhos e vê um rosto sobre ele. Tristão não pôde ver quem era; a face de quem o contemplava estava oculta sob uma máscara, que mantinha somente os olhos visíveis, mas ele notou uma certa semelhança com alguém muito estimado, parecia seu mestre Gorvenal. De longe, uma voz lhe dizia: “Agüente, Tristão! Logo chegaremos e tu serás curado!”.
No transcorrer dos dias, Tristão, cercado de cuidados, recobra um pouco a consciência e vê-se realmente no mar.
— Sir Gorvenal ?! —fala num fio de voz.— Onde estou? Meu tio... o rei...
— Calma, filho! Não se esforce...
Tristão sente um odor fétido e uma terrível dor abaixo de sua cintura. O ferimento, já começava a dar os sinais de putrefação das áreas próximas. Os que estavam com ele, no barco, não tiravam as máscaras.
— O que aconteceu com Morholt? Para onde estão me levando?
— Tu venceste, Tristão! Morholt está morto e a Cornualha está livre, agora. — conta-lhe Gorvenal.
— Eu consegui... consegui...
— Sim! Tu conseguiste! Venceste como um verdadeiro cavaleiro! Quanto à tua segunda pergunta... estamos a caminho da Irlanda.
— Irlanda? —pergunta confuso. — Por quê?
— Porque somente lá encontrarás alivio para o teu mal. Foste envenenado pela ponta da espada de Morholt e só a rainha da Irlanda conhece o contra-veneno para curá-lo — explica-lhe o homem que os acompanhava.
— Sim... agora me lembro... Morholt me disse qualquer coisa sobre isso, enquanto lutávamos, mas... a rainha jamais irá curar-me...
— Não se preocupe; tudo já foi planejado. Ela não saberá quem somos, seu nome será Thantris e diremos que somos bardos errantes, para que consigamos entrar no castelo do rei Anguish. Vê? Trouxe até tua harpa!
— E pelo jeito... não foi só a harpa que trouxeste... — ri Tristão apontando para a sua armadura.
Gorvenal ficou sem graça...
— É... bem... fiquei tão apavorado com seu estado que, embarquei-o com a armadura completa.
— Bom, mas isto não importa! O importante é mantermos tua armadura e a espada ocultas. A não ser que as joguemos no mar...
— De jeito nenhum! — protesta Tristão. — Logo a minha primeira armadura de cavaleiro consagrado e a espada de meu tio Marcos? São objetos muito valiosos e estimados... Ui! Que dor!
Gorvenal não conteve o riso.