Já era noite, quando duas figuras misteriosas atravessam os portões do cemitério.
— Dá-me a tocha, rapaz, e fica à parte. Não, apaga-a; não quero que me vejam. Aguardai-me abaixo do cipestre e fica atento. Assim, se notares a presença de alguém chegando, sem que o perceba, deves assobiar-me.
— Senhor Páris, por que estás fazendo isso? Não me agrada ficar aqui fora sozinho... — fala o criado temeroso.
— Oras, covarde! Deixai de lamúrias, dê-me as flores e faze o que te disse!
O criado sai a resmungar.
— Sinto um pouco de medo, por me ver no cemitério, mas que seja! Hunf!
Páris se aproxima da porta do mausoléu.
— Minha querida flor, espalharei flores em teu leito. De pedras frias é o dossel, mas à noite, com água, trarei irrigadores ou o pranto amargo de meu fado cruel e prometo-vos, querida Julieta, que flores hão de nascer em tua sepultura...
O pajem à parte ouve passos e assobia.
— Vem gente! Que pé maldito pisa estes caminhos durante a noite, para perturbar-me nos funerais e ritos do amor puro?
Páris se esconde atrás da lápide do túmulo mais próximo, desembainha a espada e fica de tocaia.
— Romeu! Vede o que vai fazer! — criticava-lhe Baltazar.
"Romeu?! Não foi este que matou o primo de Julieta?"— lembra-se Páris.
— Dá-me o ferro e o enxadão e toma esta carta. Logo que amanhecer tens de entregá-la ao meu senhor e pai. Agora, a tocha! Por tua vida, te exorto: embora vejas e ouças seja o que for, fica à parte. Se ora desço a este leito de morte, em parte é apenas para o rosto ainda ver de minha esposa Julieta... — mente Romeu para tranqüilizar o criado. —Logo sairei...
"Esposa?! — espanta-se Páris. — Mas o que este infame está dizendo?"
Romeu e Julieta em prosa e versos na reta final. Confiram em:
http://fapdunguel-2.blogspot.com/
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